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segunda-feira, 9 de maio de 2011



             Visão do Coração


Na dureza da rocha vejo a flor
E nas noites percebo as auroras
Nos espinhos encontro o tom das floras
E no pranto descubro a luz do amor.

Entre as réstias do riso vejo a dor
Num ocaso de vidas mundo afora,
E percebo o sertão na voz canora
Quando o verso revela o cantador.

Sob a pedra vejo um veio cristalino,
E no mundo, percebo a luz menino,
Espargindo esperança na escuridão.

E nas curvas sem planos do invisível,
Todo dia eu descubro um Ser sensível,
Aumentando a visão do coração.

sexta-feira, 6 de maio de 2011




         Inquietação Poética


Eu sou como um pequeno vaga-lume
Minha luz clareia, mas não orienta,
Meu caminho de versos não sustenta
A incerteza da vida quando assume.

Como o cheiro que se evola do perfume
Meu sentido poético não se assenta,
Cada passo que dou é um Ser que inventa
Uma estrada sem fim, por sobre um gume.

Sempre busco olhar no tom das cores
O sensível tingindo os esplendores
Quando a tarde se deita no crepúsculo.

O que mais me seduz é o encantado!
Mergulhar entre as fendas do ocultado
E buscar a grandeza no minúsculo.


Obs. soneto inspirado a partir da frase “O vaga-lume clareia, mas não orienta” do pernambucano Lourival Holanda

domingo, 1 de maio de 2011



       Cavalgadas de Lembranças

Num cavalo galopei sobre a serra
Um jaguar deu esturros estridentes,
A serpente feroz mostrou seus dentes
Os punhais afiados para a guerra.
A caatinga no peito ainda desterra
As lembranças das grutas tenebrosas,
Os espinhos das plantas venenosas,
As floradas dos pés dos bugaris,
As cantigas das lindas juritis,
Alegrando as auroras invernosas.

Cavalgando veloz pelas campinas
O meu corpo sentia a brisa leve
Eu ficava maneiro como a neve
Dando beijos com dúlcidas neblinas.
No cavalo eu pegava em suas crinas
Agarrado, sentindo a pulsação,
O meu corpo tornava-se sertão
Embrenhado na mata bem fechada
Vez enquanto sentindo uma florada
Penetrando no fundo coração.

As passadas dos cascos do cavalo
Desenhavam o fundo dos caminhos
O meu corpo fugia dos espinhos
Numa dança dos cactos num embalo.
Eu ficava tão fino como um talo
Sobre o dorso do meu lindo alazão,
De chapéu, de perneira e de gibão,
Eu rompia as chapadas mais distantes
Enfrentando rochedos bem cortantes
Sem temer os perigos do grotão.

Eu livrei-me dos troncos das juremas
Dos espinhos em formas de anzóis
E senti das campinas os lençóis
Dos tapetes das gramas em poemas.
Envolvido naqueles mil emblemas
O meu corpo brotou a flor sensível;
Hoje tenho a lembrança inesquecível
No jardim florescente da memória
Que renasce do peito minha história
Onde torno meu mundo mais visível.



                  Imprevisível


Minha poesia não procura as auroras,
Sempre busca da noite o imprevisível,
Mesmo que o seu fulgor seja impossível
Ou que o brilho se acabe em poucas horas.

Quando brotam do peito algumas floras
Que são versos dum mundo invisível,
Eu me perco num Ser perceptível
Que se esvai dos sentidos sem demoras.

Sem saber muito certo sobre mim,
Eu caminho na estrada sem ter fim...
O sensível não me mostra uma meta.

E perdido nas retas da certeza
Me confundo nas curvas da incerteza
Só sentindo, apenas, ser poeta.