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quinta-feira, 12 de março de 2015



A partida de um patrimônio da arte imaterial do sertão

Hoje, o sol da reserva imaterial da poética sertaneja está nublado, pela despedida de um guardador da arte literária. O mestre Teófanes Leandro, foi morar   junto das estrelas do Olimpo da Poesia. Durante sua existência, foi um chiqueirador da sensibilidade; um tangedor da experiência estética; um guardador de um tesouro feito de palavras delicadas e enternecedoras, enfim, um sertanejo autêntico! Um grande protetor da mais representativa arte do Cariri paraibano e do Pajeú pernambucano.
Homem de oratória eloquente e de um saber acumulado pelas leituras e pela experiência de vida, Teófanes gostava de receber os amantes da poesia em sua humildade casa, numa propriedade rural, no sítio Melancia, nas ribeiras do Rio Feiticeiro da Poesia. Sempre atualizado e cortês, o sertanejo de expressões fortes, adorava apresentar um imenso repertório de poesias dos grandes vates do passado.
O terreiro ou a sala da sua casa era o grande palco, onde Teófanes se transformava em poesia. Quando recebia visitas, começava a falar de algum poeta, e em pouco tempo, uma enxurrada de versos eram declamados com muita emoção e expressividade. Homem rústico, acostumado com a labuta do sertão, enfrentava os espinhos afiados das juremas, mandacarus, coroa-de-frade, xiquexique, longas estiagens, sol inclemente, entre outros desafios. O declamador e contador de histórias, era uma pessoa delicada, amiga, educada e sempre aberta a quem chegasse a sua humilde residência.
Com Teófanes foram embora um imenso repertório de poesias e histórias dos poetas cantadores que habitaram o grande Estado do Sertão. Fica na memória dos que visitavam sua casa os momentos inesquecíveis de êxtase poético e a oralidade de um homem que viveu e soube registrar o seu tempo. Sabedor das letras e dos acontecimentos do mundo, o contador de histórias e guardião da alma sertaneja, era um questionador inquieto dos assuntos religiosos, políticos, sociais, econômicos e das coisas da vida; sempre surpreendendo os visitantes com algumas perguntas instigantes e desafiadoras. Era uma pessoa apaixonada pelo saber.
Quebrando os grilhões dos urbanoides (designação de Elomar aos urbanos) Teófanes mostrou que o sertanejo é um homem portador de grande sabedoria e conhecimento das coisas do mundo. Tive o prazer de inserir na minha tese de doutorado (O sertão educa), as palavras sensíveis de Teófanes sobre sua relação com a natureza do sertão. Este sertanejo de alma maneira (a lá Elomar de novo), deixou o legado de uma grande reserva antropológica, revelada por meio da arte poética, expressão máxima na estética da Terra da Poesia.


                                                                                         Gilmar Leite

segunda-feira, 9 de março de 2015




                 Sonho de Condores


Como as águas borbulham numa fonte
E depois, movimentam-se em corrente,
O pulsar do viver revela a gente
Escorrendo, na busca do horizonte.
Em seguida, as águas descem o monte,
Dando beijos, brotando lindas flores.
Nossa vida tem sonhos de condores
Sempre em busca de voos altaneiros,
Dando passos errados e certeiros
Procurando encontrar certos amores.

A corrente das águas busca o mar
Pra deitar-se nos braços do oceano
Cada passo traçado pelo humano
Busca o mais alto para conquistar.
Desde a fonte, as águas, sem parar,
Vão brotando a beleza da semente;
O trajeto do humano é diferente,
Pois tropeça nas rochas e espinhos,
Muitas vezes se perde nos caminhos
Esquecendo o sentido de ser gente.

                                              Gilmar Leite