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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Este cavalo foi fotogrado no cariri paraibano, nas imediaçõe da fazenda Serrote Agudo, lugar imortalizado na composição de Zé Marcolino e na voz de Luiz Gonzaga. O que chamou atenção, além da magreza, foi o desespero cambaleante do cavalo para comer alguns talos de capim quase secos.

       Tormento de um Cavalo

Quantas vezes correstes livremente
Nas campinas florida do sertão
Conduzindo o vaqueiro com gibão
Num galope feliz e velozmente.
Os teus cascos trinavam reluzente
Na caatinga, grotão e pradaria,
Pra depois descansar na calmaria,
Sob a sombra dum velho juazeiro
Escutando o cantar doce e maneiro
Do concriz dando adeus ao fim do dia.

Muitas vezes vencestes as distâncias
Dando trotes sutis, bem coordenados,
E pastastes nos campos orvalhados
Vendo as águas pulsando em ressonâncias,
Teus galopes mostravam elegâncias
Conduzindo com porte algum vaqueiro
Perpassando a jurema e o marmeleiro
Sem temer da caatinga algum perigo
Protegendo no lombo o teu amigo
No trabalho mostravas ser parceiro.

Pelos campos tangestes mil boiadas
Sempre atento à fuga do novilho
Escutando o aboio como um trilho
E vencendo as estradas alagadas.
Hoje a seca, com garras afiadas,
Faz teu corpo sofre desnutrição
O fantasma da fome com agressão
Diminui o viver, rouba a esperança,
Qualquer passo teu corpo logo cansa
Numa cena repleta de aflição.

Sempre em vão a procura do alimento
Muito mal tu consegues caminhar
Pois parece que o corpo vai tombar
Num viver tão repleto de tormento.
O teu corpo revela o sofrimento
Nas agruras da fome causticante
A passada te faz cambaleante
Demonstrando decrépita magreza
Pois a morte parece ser certeza
Sobre um corpo que já foi elegante.

7 comentários:

  1. E que novidades, Poeta!Belíssimos poemas!
    Em "Tormento de um cavalo", não sei o que é mais impressionante: o realissimo forte da foto ou o abstracionismo poético do poema.Neste, há uma contradição: tristeza com beleza.
    Parabéns, Poeta! Um abraço. Zé Rego.

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    1. Caro amigo Zé Rego, obrigado pelas palavras gentis. Realmente o sertão, é adverso, repleto de contradições. Isso o torna sempre aberto a várias significações. Isso eu mostro no meu doutorado. Você recebeu a tese?
      Abraços
      Gilmar

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  2. Vim conhecer Águas do Pajeú!
    Li primeiro os sentimentos, nos tocantes versos, depois percorri quase tudo, por este espaço tão rico de nordestinidade. Tenho um Riacho Pajeú na minha Fortaleza, que amo desde pequena e que vejo agonizar dia-a-dia.
    Parabéns, pelo que aqui faz, Gilmar.
    Hei de voltar.
    Um abraço
    da Lúcia

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    1. Obrigado amiga. Que bom que gostou do meu espaço de sensibilidade. Legal o Pajeú também se fazer presente por aí.
      Abraços
      Gilmar

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  3. Caro Gilmar Leite.

    PARABÉNS PELO POEMA.

    NO ENSEJO, COMUNICO QUE IREI POSTAR O MESMO (CASO VOSSA SENHORIA ME AUTORIZE), EM MEU BLOG.

    Bira Viegas
    Carnaúba dos Dantas - RN

    Blog Bira Viegas
    http://bira-viegas.blogspot.com.br

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    1. Obrigado pela visita nobre Bira. É uma honra poder participar do seu espaço online. Fique a vontade.
      Abraços
      Gilmar Leite

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    2. Caro Gilmar.

      Obrigado, e que tenhas uma excelente semana.

      Fraternalmente

      Bira Viegas

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Obrigado pelo comentário