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domingo, 12 de julho de 2009

Gosto da poesia de uma forma ampla e profunda, independente dos estilos literários. Mas tem 3 estilos que de certa maneira me encantam e me seduzem. São eles: O Soneto, o Galope à Beira Mar e o Decassílabo. A sonoridade e os rítmos dos estilos citados fazem minh alma bailar na sinfonia poética.

Galopes à Beira do Mar

Cheguei do sertão pra morar na cidade
Trazendo na mala os costumes da terra
O vale, a campina, a grandeza da serra,
Os sonhos brotados na flor da idade.
Andei pelas ruas buscando a verdade
Dos sonhos do povo que habita o lugar
Vi gente correndo sem nunca parar
Vivendo o pavor da cidade moderna
Saí correndo com horror da baderna
Fui dar os meus passos na beira do mar.

Pisando nas lindas areias branquinhas
Senti uma cócega sob os meus pés
Eram as correntes fazendo revés
Trazendo mil beijos das águas marinhas.
Fiquei encantado com as brisas mansinhas
Beijando o meu corpo num doce tocar...
Cantigas das ondas num lindo bailar
Chegavam à praia mostrando os encantos
Pensei minha mãe entoando acalantos
Cantando comigo na beira do mar.

Coqueiros gigantes, iguais a guerreiros,
Fincados no chão, balançando as palhas,
Morenos artistas fazendo mil talhas
Cruzando com traços os belos letreiros.
Fiquei encantado olhando os barqueiros
Num simples trabalho mostrar seu lugar
Olhei pras cabanas no meu contemplar
Vi lindas crianças nas formas singelas
Brincando nos barcos, mexendo nas velas
Fazendo castelos na beira do mar.

Sentado na praia, olhando o oceano,
Vi ondas velozes beijando as areias;
O corpo moreno de lindas sereias
Mostrando com graça seu riso arcano.
Nas águas eu vi um poder soberano
Com cores e luzes seu mundo pintar...
Fiquei abismado com seu governar
Ergui a cabeça, pensei do meu jeito,
Que quadro tão belo, que mundo perfeito,
Mostrando aquarelas da beira do mar.

Vi peixes pequenos pulando velozes
Nas cristas das ondas fazendo gracejos
O brilho do sol refletia lampejos
Tocando nas asas de mil albatrozes.
As águas chegavam com garras ferozes
Batendo nas rochas num forte ruflar
A praia mostrava o seu branquejar
Tapetes de espumas beijavam as areias
Deixando seu palco pra lindas sereias
Mostrarem encantos na beira do mar.

O sol se deitava no corpo da praia
Dourando as espumas de cor amarela
O vento dizia que a forte procela
Surgia feroz quando a lua desmaia.
As ondas que eram da cor de cambraia
Ficavam vermelhas com corpo a sangrar
Ergui a cabeça vi Vênus chegar
Jogando reflexos nas águas revoltas
Estrelas pequenas brincavam bem soltas
Jogando lampejos na beira do mar.

O mar revoltoso, por causa da noite,
Batia com fúria nos grandes rochedos,
Deixando minh’alma tremendo de medos
Por causa do forte e infindável açoite.
A lua surgia no céu pro pernoite
Abrindo o seu riso num doce pulsar...
Barqueiros poetas na luz do luar
Cantavam serestas pra suas donzelas
Na praia chagavam as fortes procelas
Mostrando cantigas na beira do mar.

O mar orgulhoso olhava pra mim,
Dizia que tinha imensos mistérios,
No fundo guardava diversos impérios,
Os quais nenhum homem sabia seu fim.
Contou-me que tinha no oculto um jardim
De plantas estranhas que podem matar,
Florestas imensas cobrindo o lugar,
Cavernas ocultas, lugares profundos,
Crustáceos e peixes de excêntricos mundos,
Latentes brincando no fundo do mar.

O dia surgiu, eu fiquei contemplando,
Segredos imensos que tem o oceano;
Sabemos tão pouco, perdemos o plano,
Em cada mergulho que a gente for dando.
Senti no meu peito minha alma agitando,
Eternas correntes que tem meu cantar;
Dei passos nas águas num brando tocar,
Levando nos ombros a minha sacola,
Fazendo improvisos ao som da viola
Cantando um galope na beira do mar.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

DESAFIO: POETAS GILMAR LEITE X ALUIZIO LOPES





POETAS GILMAR LEITE E ALUIZIO LOPES
SÃO JOSÉ DO EGITO, PAJEÚ PERNAMBUCANO








O desafio abaixo, feito em Sextilhas e Galopes a Beira-Mar
foi realizado virtualmente entre os amigos Gilmar Leite e Aluizio Lopes, ambos, patrícios do Pajeú


Sextilhas
Gilmar Leite
O Galego de Tiboa
Já está bastante velho,
Seu corpo tem a idade
Do antigo evangelho
As marcas da sua alma
São rugas dum ser revelho.


Aluizio Lopes

Eu lembro de quem és filho
De "Vigário" nosso amigo,
Você que é muito novinho
Da época de papa-figo
Ainda quer que eu seja
Sobejo de sobre-mesa
Vais se lascar meu amigo.
Gilmar Leite
Coitado do ancião
Que não sabe mais contar
Seus versos são tão compridos
Que podem me atropelar
Mas como sou seu amigo
Pegue na mão de Gilmar

Aluizio Lopes
Não confio no gatilho
Que na queixa tá armado
Sou cascavel escondida
Com veneno apurado
Sou velho, mas subo em cima,
Sou grossa chuva de rima
Se me provoca é finado.

Gilmar Leite
Caba véi, tais enfadado,
No declínio da idade
Um ancião sem vigor
Um ocaso de verdade
O tempo comeu teu ser
És resto de mocidade.
Aluizio Lopes
Eu tenho pena de quem
Quer ser novo sem sustança
Como um coqueiro velho
Sem palha, não balança,
Ser novin que nem você
Eu mesmo não quero ser
Sou roubado na balança.
Gilmar Leite
O galego de Tiboa
Faz tempo que foi aurora
É um sol já declinando
Somente esperando à hora
Que a tempestade do tempo
Diga: Véin, vá embora.

Aluizio Lopes
Há tempos que a mocidade
Deixou você para traz
Quem olha para você
Sabe que não é capaz
Quer cantar, não tem voz,
O que fazia, já "não faz".

Gilmar Leite
Sou um poeta menino
Abrindo a flor da idade
Exalando da existência
Perfumes da mocidade
Minha aurora de criança
Sempre mostra mocidade.

Aluizio Lopes
Sua flor já murchou
Outra parte nem se fala
Nem é novo, tem tem cheiro
Sua essência não exala
Meu passo não acompanha
Veja lá quem tem mais banha
O tempo é feito uma bala.

Gilmar Leite
O galego de Tiboa
Está todo enferrujado
A barriga já cresceu
O corpo está entrevado
Sua cova está gritando
Você é meu convidado.
Aluizio Lopes
Mande chamar todo mundo
Para ver a cantoria
Mande que olhe pra cima
Pra não ver sua agonia
Sua expressão de aperreio
Ou canta ou sai do meio
Do meu dilúvio de rima.

Gilmar Leite
Sou menino na essência
Abrindo a flor do meu sexo
Demonstrando a mocidade
Sem medo, sem retrocesso,
E você é um velhinho
Vivendo só do complexo.

Aluizio Lopes
Eu não quero bater mais
Em respeito a moça bela
Pra não cansar o meu braço
Nem gastar a minha goela
No meu borná tem guardado
Muito verso lapidado
Assim belos, feito ela.

Gilmar Leite
Para sua tenra idade
Que já é crepuscular
Um conforto pra velhice
São os versos de Gilmar
Você vai ficar tão leve
Como a pluma, a bailar.
Aluizio Lopes
Aqui vou me despedindo
Não tenho com quem cantar
Pois no "novin" de "Vigário"
Não pode mais versejar
Não se ressucita um ovo
Que acabou de "gorar".

Gilmar Leite
O galego quer ser boy
Na estrada da idade
Já faz milhares de séculos
Que perdeu a mocidade
É um ancião na terra
O mais velho da cidade.

Aluizio Lopes
Eu vou procurar um poeta
Que saiba cantar repente
Que saiba se esquivar
Do veneno da serpente
Quando mexer com um vate
Que seja be mais prudente.

Gilmar Leite
O teu verso enferujado
Tem a tua aparência
Nem mesmo usando bengala
Te dará mais resistência
O cemitério convida
A tua inexistência.

Aluzio Lopes
Aí você vai ficando
Cada vez muito mais novo
Como na "viagem insólita"
Não faz parte desse povo
Com a força do meu verso
Lhe goro dentro do ovo.
Gilmar Leite
Apanhar de um ancião
Nem mesmo estando amarrado
Por ter pena e respeito
Procuro não ser ousado
É muito feio um jovem
Bater num aposentado.
Aluizio Lopes
Depois vire um bebê
Beba leite em mamadeira
Fale gu-gú, da-dá,
De novo faça besteira
Faça cocô bem "molin"
Se afogue na caganeira.
Gilmar Leite
Pessoa da sua idade
Necessita de respeito
Desde já peço desculpas
Pelo triste preconceito
Não tiro mais a bengala
Usando versos do peito.
Aluizio Lopes
Esqueça que é cinquentão
E diminua a idade
De novo fique menino
E vá ficando a vontade
Brincando de troca-troca
Nos becos desta cidade.

Gilmar Leite
Amigo, tais diferente,
Amigo, envelheceste,
Leve o peso da idade
Que há tempo recebeste
O teu cansaço de vida
Será que tu venceste?
Aluizio Lopes
Pois bem, você vá saindo,
Daí para Caicó,
Comece a estudar de novo
Volte pra terra de Jó
Que você será fabrico
Debaixo de um lençol.
Gilmar Leite
Véin, cuidado na rima,
Usando arrebol e Jó,
A idade o deixou surdo
Eu olhando sinto dó
Nunca vi tão ruim assim
O seu verso é cotó.

Aluizio Lopes
Por aí tem enganado
Dizendo que é poeta
Mas para o povo daqui
Que conhece a coisa certa
Enganou a freguesia
Feito um falso profeta.
Gilmar Leite
Amigo segure as ondas
Deste poeta ousado
Espero que não se zangue
E fique encabulado
Com meus veros de punhais
Os quais tem lhe perfurado.

Aluizio Lopes
Hoje você está distante
Noutras terras foi morar
Nunca fez nada que preste
Na profissão de cantar
Foi se esconder distante
No Estado Potiguar.

Gilmar Leite
Esgotei o repertório
Do poeta ancião
Esqueci da sua idade
Da sua limitação
Desculpas pelos meus versos
Hoje peço compaixão.

Aluizio Lopes
Pra eu cantar com você
Nem preciso de viola
Bato no casco da cuia
No corpo da caçarola
No jogo da poesia
Faço de você a bola.

Gilmar Leite
O galego de Tiboa
Se afastou da cantoria
Com medo dos meus punhais
Na sua mente vazia
Resolveu ficar calado
Adeus até outro dia.

Aluizio Lopes
Eu não corri da peleja
Não faz parte do meu ser
Eu fui fazer um serviço
Que aqui não posso dizer
Mas o produto do tal
Tem mais valor do que você.

Gilmar Leite
Os meus versos afiados
Trouxeram grande perigo
Suas lâminas cortantes
Viraram grande perigo
E terminei afastando
Um ancião, muito amigo.
Aluizio Lopes
Bom dia grande poeta
Voltemos a cantoria
Eu sei que você é grande
Tem força da ventania
Mas para me alcançar
Nunca vai chegar o dia.
Gilmar Leite
Sou motor fórmula 1
És um fusca enferrujado
Tenho a mente de menino
Teu juízo é entravado
Eu andando o mundo inteiro
Tu estais encurralado.
Aluizio Lopes
Oi, não apague não!
Que talvez nasça outro ovo
Se esquive do tejú-açu
Deste réptil papa ovo
E nunca queira mexer
Com o repentista do povo.

Gilmar Leite
Nunca fui nenhum cantor
Sou um vate de primeira
Eu não tenho compaixão
De quem só canta besteira
Seu não fosse sua idade
Eu lhe dava uma rasteira.

Aluizio Lopes
Sim, eu já ia esquecendo
Do poeta que é tão novo,
Tem me chamado de velho
Não quero lhe dar reprovo
Tem um remédio que faz
O "novin" ficar mais novo.


Galopes à Beira do Mar

Gilmar Leite
Cuidado Galego na dor do chicote
Dos versos vorazes que vêm do meu peito
Lhe bato sem pena, lhe pego dum jeito,
Fazendo você penerar num pinote
Dançando um axé, requebrando um fricote;
Jogando o bumbum numa dança vulgar
Chorando, gritando, num triste implotar,
Pedindo de tudo pra não lhe bater
Dizendo é melhor sucumbir e morrer
Do que apanhar do poeta Gilmar.
Aluizio Lopes
Dizer o poeta que não metrifico
Vou lhe perdoar, pois tenho até pena,
Pois antes que chegue o tempo me acena
Também sei se vou, se parto, se fico,
Quando precisar síncope, eu aplico,
Quando é improviso, devo improvisar,
Contemplo as procelas, seu lindo bailar,
Se lança pra frente, depois e desfaz
Um verde azulado, um branco se faz,
Como eu, metrifica, na beira do mar.
Gilmar Leite
Bater num colega me dói no juízo
Se for ancião, como é o seu caso,
Lhe bato com o verso mais besta, mais raso,
E deixo você num voraz prejuízo.
Porém desde já, lhe peço, lhe aviso,
Procure fazer o seu verso ficar
Distante do vate, do mestre Gilmar,
E vá percorrer os lugares sem luz
Levando nas costas o peso da cruz
Morrendo afogado na beira do mar.
Aluizio Lopes
Se for pra cantar em qualquer toada,
Eu só me avisar, que eu mudo meu plano,
Saio do sertão, vou por oceano,
Pois minha cantiga não é ensaiada.
Eu canto o roçado, falo da jangada,
Não repito verso no improvisar
Você tem costume de nada inventar
Pois seu candeiro tá quase sem luz
Você só copia, mas nada produz,
Termina afogado na beira do mar.

Gilmar Leite
Bater no Galego, que coisa tão boa!
Seu lombo macio, aguenta pancada,
O verso cruel no seu lombo é espada,
A mente vazia se perde a toa.
Suplico Galego, cantor de Tiboa,
Seu louco galope complica o andar,
Tem verso com dez, cadência maluca,
Não sei caminhar, endoidece a cuca,
Não corte as pernas na beira do mar.
Aluizio Lopes
Amigo poeta que na praia mora
Que goza, desfruta da bela paisagem,
Não queira você borrar a imagem
De um simples aedo, que a isto ignora,
Você é sabido, na capital mora,
Não ouse você o amigo humilhar
Pois não tem aí o crepuscular
Igual ao sertão, minha amada terra,
De tarde se esconde o sol lá na serra,
Causando ciúme à beira do mar.
Gilmar Leite
Bater num poeta que tem seu tamanho...
Pra mim é maneiro, pois sinto prazer;
Velhinho poeta prepare o seu ser
Que mesmo doente, no veros, eu ganho.
Bater num ancião muitas vezes me acanho
Faz pena de vê-lo num verso tombar
Ouvir seu gemido, me acuda Gilmar,
Dizendo que está ao sabor do oceano...
Se for bem humilde transforme seu plano
Não cante galope na beira do mar.

Aluizio Lopes
Eu sempre estive só na defensiva
Faço versos simples, banhando à lisura,
Pois sempre me posto com certa postura
Mas sou vigilante a qualquer ofensiva.
Sou cachoeira de rima a rimar
Sou o pescador que sabe pescar
Quando jogo a isca o besta engole
Poeta pequeno não mais me amole
Me escute de longe, na beira do mar.

Gilmar Leite
Meu verso tem cadência, possui compasso,
Tem métrica, tem som, tem plena harmonia,
Tem lagos, florestas, auroras, amagia,
Crepúsculos, fontes, montanha, abraço,
Carinhos sutis que não sentem cançaso
Belezas reais de poder cavalgar...
Seu verso faz pena de nele trilhar
É vago, vazio, não possui melodia,
Galego, talvez, você possa algum diz
Fazer um galope que agrade a Gilmar.
Aluizio Lopes
Se me atacar você tem prejuízo
Lhe tiro a saúde, começo do pé,
Lhe causo frieira, fungos e chulé,
Artrite, joanete, tudo que é preciso,
Lhe dou tendinete, lho roubo o juízo,
Os seus dois joelhos eu vou inflamar
Cãimbras nas pernas também vou causar
Um par de ínguas nas suas virilhas
Lhe causarei dor nas duas pantorrilhas
Nunca mais você anda na beira do mar.

Gilmar Leite
Poeta pequeno de rítmo maluco
Que quebra a cadência me causa uma ânsia
Perdi toda a minha sutil tolerância
Só resta usar o meu verso trabuco.
Seu canto envergonha o meu Pernambuco,
Aleija o compasso, amputa o nadar,
Fazendo o sertão num lamanto chorar
Sujando as águas do meu Pajeú
Poeta eu vou dar uma pisa em tu
Não canta que preste na beira do mar.
Aluizio Lopes
Lhe avisei, melhor pra você,
Não mexer com quem tem rima em fartura,
Lhe dou um cobreiro na sua cintura
Lhe desço a papeira, você vai sofrer,
"Aquilo" se esconde, não pode mais ver,
Tá tudo escondido num blo a inchar,
Você quer remédio, ninguém vai lhe dar,
Não vou permitir ninguém dar remédio,
Porque o poeta vai viver de tédio
Sentindo saudade na beira do mar.
Gilmar Leite
Poeta Galego prepare o seu lombo
Você vai penar nos punhais do meu verso
Cortando em pedaços, deixando em reverso,
Abrindo nas costas um mórbido rombo.
Usando meu verso lhe causo um tombo
Despido você para o povo mangar
Exponho a careca que vive a brilhar
Convido os meninos pra dar beliscão
Na bunda branquela, fazendo arranhão,
Banhando a ferida nas águas do mar.
Aluizio Lopes
Ainda tem mais no "borná" da vida
Muito outras mazelas lhe dou de presente
Sou dor de pontada no pé do seu dente
Garganta inchada, a língua ferida,
Quer pigarrear, mucosa prurida,
Quer soltar o verso, não pode versar,
Me diga colega se pode cantar?
Derramando poeira pra sua alergia,
Desposa o poeta da sua alegria
Nunca mais me afronta na beira do mar.
Gilmar Leite
Por certo és doente, da cama não passa,
Poeta só vive ofertando doença,
Cabeça vazia, vagão que não pensa,
Ancião, coitado, a vista se embaça,
A mente parece uma velha cabaça,
O peito não sabe no verso rimar
Cantor que não sabe na voz ritmar
Só presta ser mudo, calar seu gogó,
O verso sem brilho se mostra cotó
Não canta galope na beira do mar.
Aluizio Lopes
Eu canto de dez, de oite, de sete,
Sextilhas, quadrinhas, se sou açoitado,
Sou um canto "mei malassombrando",
Escrevo soneto Prometeu promete,
Mas se um pé rapado comigo se mete,
Não meço distância pra lhe açoitar
Me valho da voz no improvisar
Lhe dou uma surra sem tocar com um dedo
Ainda revelo meu grande segredo
São inspirações, lá na beira do mar.
Gilmar Leite
Que métrica louca tem seu pobre verso
Velhinho procure alguém que lhe ajude
Perdi minha calma, fiz tudo que pude,
Dizendo a você que cadência é universo
Ao ler seu galope se vê tudo imerso
O rítmo, harmonia, o bom cavalgar,
Cavalo perneta que não sabe andar
Bengala, talvez, pro poeta pequeno,
Que morre afogado no pouco sereno
Não pode enfrentar o oceano Gilmar.
Aluizio Lopes
Esse belo tema que estamos cantando
Desmerecer faz a boba peleja
Quando é meio dia o sol lhe dardeja
A lâmina verde se vai esquentando
A fuana do mar no morno nadando
Pois tem até peixes que amam o luar
Pequenas agulhas no seu agulhar
Costuram o mar no pano do vento
O pescador usa a luz muito atento
Pescando os peixinhos na beira do mar.

Gilmar Leite
Bater em você com meu verso feroz
Me deixa bastante feliz e contente
Não sou pra você um poeta clemente
Confesso lhe bato porque sou algoz.
Arranco do peito a decrépita voz
Afônico, não vai, poder imitar,
Cantor que não sabe na voz galopar
Empurro sem pena no abismo profundo
Poeta pequeno procure outro mundo
Se faste ligeiro da beira do mar.
Aluizio Lopes
Esse tem está ficando sem graça
Não lhe agravei nos particulares
Sinais de feição eu deixo nos ares
Sou um cantador, sou uma boa praça,
Aqui não falei de cor, nem de raça,
Se for pra falar de "formoso" não dá,
De "persona" amigo não é bom falar,
Beleza e candura tem Neide e Rachel,
Aqui um cantor, lá um menestrel,
Dois velhos amigos na beira do mar.

Gilmar Leite
Rachel é sereia que habita meus mares
Enfrenta comigo qualquer oceano
Navega nas ondas do amor soberano
Cruzando as procelas e vários lugares
Nereida que tem belíssimos cantares
Que enfeita as areias do meu caminhar
A ninfa profunda que faz navegar
O barco gigante de eternos desejos
Que ancora nos lábios os dúlcidos beijos
Fazendo amores na beira do mar

Aluizio Lopes
Cavalgo nas águas do meu pensamento
Procuro alento na inspiração
No tropel de rima, do meu alazão,
Corto pradarias com a força do vento;
Deus é que me guia, ele é meu sustento,
Se é meu sustento não vou fraquejar,
Não conheço nada que possa imitar
O Deus que criou toda criação
Agora amigo lhe peço perdão
Nos dez de galope na beira do mar.
Gilmar Leite
Na beira do mar tem imensos coqueiros
Siris que namoram em grutas pequenas
Passeios sutis de fogosas morenas
Cantares de vidas de velhos barqueiros.
Amores fulgazes de mil jangadeiros
Cadência das ondas num lindo bailar
Só falta o amigo saber cavalgar
Nos doces balanços da bela harmonia
Andando comigo, talvez, faça um dia,
Um belo galope na beira do mar.