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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Arte de Perazzo Castilho

Acredito que poetisa, ex-prostituta e alcoólatra, Severina Branca, não deve ficar mais refém do seu passado sombrio, pelo motivo de ela ter, hoje, outra vida. Então, numa visita recente que fiz à poetisa, surgiu a ideia de fazer um poema sobre a cita poetisa. Hoje, ela mora num distrito de São José do Egito, com o nome de Mundo Novo. 

           Mundo Novo

Sepultei amarguras do passado
Dos contatos fortuitos e banais,
Hoje o corpo encontrou a sua paz
Ao livrar-se das sombras do pecado.
O meu peito hoje está aliviado
Mesmo tendo o punhal da solidão
Mas não vivo na pérfida emoção
Encontrei uma luz na consciência
Apontando o caminho da existência
Dando alívio ao meu frágil coração.

Mesmo tendo meu corpo envelhecido
Já não sinto amarguras dos temores
Enterrei no meu peito os dissabores
Esse mundo pra mim foi esquecido.
O sofrer não roubou o enternecido
Da gentil convivência com os amigos
Eu sofri sob as sombras dos perigos
Mesmo assim, ofereço meu abraço,
Cada afeto do peito forma um laço
Que procura fazer muitos abrigos.

Não carrego na vida a rigidez
Dos momentos dos falsos devaneios
Quando os homens beijavam os meus seios
Nos momentos da minha languidez.
Mesmo assim não permito a sordidez
Construir no meu peito um’alma dura
Eu livrei-me da louca desventura
Sem deixar meu viver ser corrompido
O silêncio da noite foi esquecido
Já não sofro na sombra da amargura.

Vou vivendo sozinha no meu lar
Cada amigo recebo com frequência,
Eu abraço com minha reverência
A minha alma foi feita pra abrigar
O meu verso é cantiga de ninar
Não caminha na estrada do rancor
No sutil coração repousa o amor
Sem trazer amarguras do passado
O meu ser hoje está bem renovado
Sou feliz enfrentando qualquer dor.

                                         Gilmar Leite


                Linhas do Coração

Não me sinto completo por mim mesmo,
Sendo humano, preciso das pessoas;
Sem os outros, nós vivemos muito à toa,
Dando passos, andando sempre a esmo.

Minha parte é pequena nesse mundo
Mas o pouco ofereço em quantidade;
O que vale é sentir cumplicidade,
Abraçando a verdade e o bem fecundo.

Eu procuro os afetos e os abraços,
Dando passos, vencendo alguns cansaços,
Expandindo o sorriso em comunhão.

Mesmo quando eu oferto uma fagulha
É meu ser costurando, sendo agulha,
Com as linhas que estão no coração.

                                             Gilmar Leite



                    Meus Passos

Sempre sei como piso sobre o chão
O meu passo é discreto, com cuidado,
Eu evito trilhar descompassado,
Sufocando a nobreza de uma ação.

Cada passo, eu evito a contramão,
Conduzindo o meu gesto educado,
E procuro deixar no chão marcado
Os trajetos de um livre coração.

Os meus passos têm flores carinhosas!
No verão ou nas noites invernosas,
As pegadas têm plácidos abrigos.

Sem temer o relâmpago em lampejo
Cada passo que dou, levo meu beijo,
Pra enfrentar desafetos e perigos.

                                           Gilmar Leite


                   Sem Teto

Ser gentil, educado e generoso...
São valores difíceis hoje em dia,
Os afetos perderam a moradia
E padecem no mundo orgulhoso.

Ser aberto, doar-se, ser bondoso,
E ofertar do sentir a fidalguia,
Faz a alma encontrar resposta fria,
Onde o sol da distância é poderoso.

Partilhar o sabor de um elogio,
Dividir com amor o próprio brio,
Abraçar cada coração contente...

São valores que estão perdendo o teto,
E, por isso é difícil ser completo,
Pois estamos fugindo de ser gente.

                                        Gilmar Leite