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sexta-feira, 26 de março de 2010


Origem Sertaneja

Eu nasci numa tarde de verão,
Num calor escaldante, abrasador,
Minha mãe contorcia-se de dor,
Que subia o pulsar do coração.
A paisagem deserta do Sertão
Revelava um ocaso no momento,
Um crepúsculo vermelho, sangrento,
Parecia que o sol sofria um enfarto,
Minha aurora despertava no quarto,
Pra mostrar toda luz do nascimento.

 
Nasci com cheiro da terra nordestina,
O vigor resistente da braúna,
O cantar afinado da graúna,
A carícia dos ventos, na campina.
Minha escola foi “Dona Severina”,
Sertaneja que tinha a face rude;
Batizaram-me com águas do açude,
O meu pai escolheu o primeiro nome,
Minha mãe nunca fez eu passar fome,
O seu leite foi que me deu saúde.

Eu cresci na caatinga sertaneja,
No chão seco, correndo no cascalho,
Pastorando as ovelhas com chocalho,
Dando passos campestres, na peleja.
Ouvi preces dizendo: “Deus proteja
Pra não ser mais um ano sem inverno”.
O Sertão sem chover é um inferno,
Falta milho e feijão, falece o pasto;
O campônio, ao ver seu roçado gasto,
Sente n’alma um cruel verão interno.

Tomei banhos no Rio Pajeú,
Dei mergulhos nas águas bem barrentas,
Sem temer correntezas violentas
Nem espinhos que há no mandacaru.
Comi pinha, melão, manga e caju;
Na caatinga, fui rápido vaqueiro,
Tangi cabras pra dentro do chiqueiro,
Solfejando, nos lábios, um baião,
Demonstrando um caboclo do Sertão
Que tem cores do povo brasileiro.

Trago, desde a infância, as cantorias,
Ecoando no meu ser com ternura,
Onde mostro a autêntica cultura,
Num lirismo com flores de poesias.
Gonzagão, através das melodias,
Despertou minha nordestinidade,
Revelando a cor da brasilidade,
Num painel cultural que há na arte,
O qual leva, pra toda e qualquer parte,
A grandeza da minha identidade.

domingo, 14 de março de 2010

O poema logo abaixo é dedicado ao amigo Antonio Pereira.
O Cantador/Uirapuru da Amazônia

Meu Canto Uirapuru

O meu canto uirapuru
É suave como a flor
Tem a pétala do amor
O fulgor do riso nu.
Nele mostro o sonho azul
Deixando em silêncio a mata
Com acordes em cascata
Escorrendo dos meus dedos
Mostrando sutis segredos
Num concerto em sonata.


O meu canto igarapé
Com seu brilho cristalino
Tem pureza de menino
A grandeza de um pajé.
Nele mostro a flor mulher
Exalando mil encantos
A floresta com seus cantos
A bravura dos guerreiros
A força dos curandeiros
E os doces acalantos.


O meu canto tem mistério
Do coração da floresta
Cada tom tem uma aresta
Onde o amor é o império.
A beleza eu levo a sério
Na minh’alma enternecida.
Meu cantar tem a partida
Nas águas da esperança
Levando a flor da criança
Na correnteza da vida.

quarta-feira, 3 de março de 2010


Sonho Bucólico

Eu tive um sonho florido
Nas campinas do sertão,
Que tocou meu coração
Deixando-o enternecido.
Vi a flor num estampido
Com o beijo dum colibri,
Fazendo a pétala se abrir
Pra o bico do passarinho,
Levar com terno carinho
Pequenos grãos do porvir.

Eu vi no sonho encantado
As douradas borboletas,
Fazendo mil piruetas
Num balé bem refinado.
Vi um concriz num dobrado
No alto de um umbuzeiro,
No seu cantar seresteiro,
Seduzindo o seu amor,
Fazendo até mesmo a flor,
Dobrar-se ao canto faceiro.


Vi sutis gotas de orvalhos
Descendo dos arvoredos,
Pra caírem nos rochedos
Despedindo-se dos galhos.
Juritis feito agasalhos,
Usavam as plumas do peito,
Pra cobrir com doce jeito
O filho implume desnudo,
Onde a pena era o veludo
Pra o conforto do seu leito.


Vi nas flores perfumadas
As abelhas num vergel,
Procurando o doce mel
Entre as pétalas delicadas.
Sobre as telhas afastadas
Um pequeno rouxinol,
Dizia pra mim que o sol
Vinha escurecer o sonho,
Pra deixar meu ser tristonho
Na súplica dum arrebol.