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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Meninos do Pajeú

Saudade do Tempo de Menino


Na caverna profunda da memória
Lembro a vida florindo inocência
Não sabia do negror da consciência
Expressado nos dramas da história.
Minha vida só tinha a flor da glória
Era um mundo coberto de bonança,
Onde o sol da bondade numa dança
Me cobria com um brilho cristalino;
A saudade do tempo de menino
Fez morada na gruta da lembrança.

Galopava num cavalo de pau
Na campina florida do meu sonho;
Um campônio alegre bem risonho
Despertava num instante matinal.
Na floresta o cantar fenomenal
Do concriz, seresteiro que não cansa;
Esse mundo ecoa com pujança
Entre os vales do sonho tão divino;
A saudade do tempo de menino
Fez morada na gruta da lembrança.

Lembro bem das vazantes alagadas
Os tetéus numa orquestra delirante,
As marrecas voando bem rasante
Desenhando no céu linhas curvadas.
Nas campinas florinhas orvalhadas
Perfumava com lírica aliança;
Era um mundo de linda aventurança
Que hoje guardo no sonho campesino;
A saudade do tempo de menino
Fez morada na gruta da lembrança.

Eu pulava no poço mais profundo
Sobre as águas marrons do Pajeú
Com meu corpo esguio, quase nu,
Deslizava num rápido segundo.
Para mim não havia outro mundo
Diferente do mundo da criança;
Era um tempo feliz de esperança
Que hoje guardo na forma de um hino;
A saudade do tempo de menino
Fez morada na gruta da lembrança.

Logo cedo corria pro roçado
Pra cuidar do meu bando de ovelhas,
E ficava feliz vendo as abelhas
Preparando o cortiço encapado.
Para mim, era um mundo encantado,
Que me dava no peito segurança;
Hoje choro por causa da mudança
Que chegou, transformando meu destino;
A saudade do tempo de menino
Fez morada na gruta da lembrança.

Sobre a tela da mente ainda vejo
O Sertão se mostrando na invernada,
A cantiga sutil da passarada,
O semblante feliz do sertanejo.
Na memória, eu guardo o gracejo
Da rolinha mostrando sua andança;
Esse mundo que não tem semelhança,
Ele vive no meu sonho mais grã-fino;
A saudade do tempo de menino
Fez morada na gruta da lembrança.

Inda vejo mamãe na flor do riso
Preparando o café toda manhã;
O seu jeito suave feito lã
Revelava do rosto um paraíso.
A bondade foi seu mundo preciso
Que procuro vivê-la como herança;
É a luz que me dar perseverança
Pra enfrentar esse mundo tão ferino;
A saudade do tempo de menino
Fez morada na gruta da lembrança.