Fantasmas da Sequidão
Grandes tochas de fogo no nascente
Mostram brasas queimando sobre a terra
Num calor infernal que nunca encerra
Pela força do raio incandescente
Um tenor sabiá de voz dolente
Solta um canto do fundo coração
A paisagem que surge no verão
Amedronta com mórbidos facheiros
Entre cactos, juremas, marmeleiros,
Arde o sol pra queimar todo o sertão
Sobre o corpo terra uma ferida
Mostra um velho açude calcinado
Uns garranchos pendidos no roçado
São resquícios de que já houve vida.
Cada bicho procura uma guarida
Assustado, temendo a sequidão,
O fantasma da seca racha o chão
Que resseca até mesmos os umbuzeiros
Entre cactos, juremas, marmeleiros,
Arde o sol pra queimar todo o sertão
Uma velha braúna se declina
Estendendo seus galhos ressequidos
Na caatinga se escuta mil gemidos
Nos agouros das aves de rapina
Um cansado cavalo meche a crina
E caminha buscando uma direção
Velhas aves entoam uma canção
Como o canto dos loucos prisioneiros
Entre cactos, juremas, marmeleiros,
Arde o sol pra queimar todo o sertão
As juremas se parecem retirantes
Alguns cactos fantasma da miséria
Marmeleiros padecem na matéria
São imagens de cenas horripilantes.
Seca a face dos poucos habitantes
Morre o sonho sentindo a sequidão
Cada planta emurchece sobre o cão
Como imagens de lânguidos guerreiros
Entre cactos, juremas, marmeleiros,
Arde o sol pra queimar todo o sertão.