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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Tela, Os Retirantes, de Cândido Portinari


         Retirantes do Pajeú

                                          Poema Épico Teatral

Senhor leitor! Apresento neste poema,
Uma tragédia sertaneja horripilante,
Por isso peço que prepare o coração
Pra perceber o sofrimento degradante,
Aqui, revelo o Pajeú estorricado;
Onde o deserto faz morada no roçado
Levantando o mastro da seca triunfante.

Perceba bem leitor, os gritos, os gemidos;
A terra ardendo, vermelha como brasas...
Sob um céu límpido, azul da cor do mar...
Os urubus famélicos movendo as asas.
Em cada lar deságua um triste mar de choro;
Orações, preces, ladainhas, formam um coro,
Onde a incerteza faz morada sob as casas.

A ventania forte tomba a lânguida porta
Estremecendo o interior da residência;
De dentro dela surge uma velha esquelética
Modificada na decrépita aparência...
Ergue o seu braço e fita o olhar pra sequidão
Solta um gemido, numa forte assombração,
E grita ao céu, chorando, pedindo clemência.

Grande Deus! Venha, veja o meu seco Sertão!
O Pajeú veloz não corre mais no leito...
Só a tristeza lacrimal desce em vertente
E cobre a folha murcha do meu velho peito.
Oh! Meu Deus! Veja, sob a casa só há prantos...
E meus sonhos secaram já não têm encantos...
Deus! Oh meu Deus! Por que sofremos desse jeito?

E assim, o grito lastimoso e contundente;
Mostra o lamento forte, cheio de oração,
Pedindo a Deus que afaste o sórdido tormento
Onde o pavor da fome, faz assombração,
O seu clamor se perde sob o infinito...
Sem esperança, ouve o seu fúnebre grito,
Entre as juremas ressequidas do sertão.

Pelas estradas secas partem os sertanejos
Já despertando a dor da saudade gritante
Do Pajeú querido, lugar de mil sonhos,
Onde, outrora, foi seu canto fascinante...
O vil presente mancha todo o seu passado...
E, a luz negra de um futuro tão nublado,
Cobre a esperança, numa cena horripilante.

O Pajeú revela um leito estorricado...
Os retirantes fracos, como moribundos,
Por entre os galhos, parecendo maltrapilhos,
Dão impressão que são fantasmas de outros mundos.
Na sequidão dos corações foge a esperança
E vez enquanto surge a luz de uma criança
Sobre a forma de um riso, fugindo em segundos.

Mães famintas, crianças fracas, pais chorosos,
São as cenas do Pajeú seco e tristonho
Que enterrou entre as rochas do chão ressequido
As promessas floridas de um mundo risonho.
Nos casebres ficaram lânguidas lembranças...
O presente sepulta poucas esperanças...
O porvir fecha as portas dúlcidas do sonho.

Oh Leitor! Veja nas imagens destes versos!
Sinta a tragédia borbulhando sofrimento,
Nem mesmo Dante viu nos círculos infernais,
O cruel castigo, no mundo do tormento.
Lá, o poeta viu a dor dos pecadores...
Aqui, mostro o tormento dos agricultores...
Homens simples, perdidos, sofrendo ao relento.

Uma mulher magra parecendo um graveto
Conduz a filha agarrada na cintura,
E sem vigor tropeça no duro rochedo
Pra cair por cima da pobre criatura.
Um abafado grito da garganta ecoa
Logo se estende por cima duma lagoa
E se perde por dentro da caatinga escura.


A magricela criança chora bem baixinho...
A mãe esquálida lhe oferta o seio mole
Esperando ter um pouquinho de alimento,
Pra aliviar o sofrer, que o leite a console.
Frágil, tremendo, com trêmula força puxa,
Logo percebe que na glândula tão murcha,
Nenhuma gota de leite da mãe se bole.

Ao invés do leite, aparece um fio de sangue!
Cobrindo a lágrima do olhar vago e tristonho...
Deixando no rosto, cacimbas inundadas,
Que a afoga a vida sepultando o lindo sonho.
Rachados lábios, igualmente a terra bruta,
Buscam o líquido do viver, travando a luta,
Num padecer infernal de um sofrer bisonho.

A criancinha chora e grita: Ô Mamãe!
Todo meu corpo balança feito uma bandeira!
Eu não consigo andar, sinto os pés fraquejando,
Quando caminho atravessando uma ladeira.
Sinto que estou fraca, meu corpo já definha...
Eu não sei para onde a triste alma caminha...
E a fome, tornou-se a minha companheira.

Não há aurora sobre o campo do flagelo
Somente o ocaso da fome mostra-se presente,
E alguns gemidos entre os secos carrascais
Que ecoam com lamentos fortes e estridentes.
O governante, sem compromisso, vira as costas...
Os retirantes tristes rezam de mãos postas,
Pedindo a Deus, com lamentos indulgentes.

Oh Deus! Olhai pros campos, veja a sequidão!
Tudo está morto! No sepulcro da tristeza
Nosso cadáver do sonho foi sepultado,
Entre os rochedos da nossa única certeza.
Aqui só tem água nas velhas faces magras
E as dores, são tantas, que viraram pragas,
Sobre o roçado de uma vida de incerteza.

Os retirantes do sofrido Pajeú,
Tem no horizonte o fantasma da sequidão.
Um triste pai vê seu o filho fraco de fome
Fragilizado de tanta desnutrição.
Nem procurou botar um nome no seu filho
Imaginando que em breve o frágil maltrapilho
Vai falecer nas trilhas secas do Sertão.

Entre os garranchos, uma esquálida menina,
Mostra a expressão do galho quando a folha seca
Leva nas mãos seu lindo sonho de criança
Que se revela na expressão de uma boneca.
Para o risonho brinquedo fala baixinho
E promete com meigo e plácido carinho
Que terão alimentos, depois da soneca.

Oh Leitor! Não se engane com este momento;
Onde a viver se mostra na pura inocência.
Levante os olhos, veja o sórdido flagelo,
Onde o sol do viver se deita na existência.
Veja leitor! Cada passo, cada dissabor,
Cada manhã de vida perdendo o esplendor,
Numa nação que desconhece a consciência.

Veja bem sobre o solo bruto e ressequido
Os retirantes só têm sob a pele os ossos,
Nos corações a aridez sem nenhuma fonte...
E, dentro d’alma a miragem de alguns poços.
Desiludidos, buscam por um pouco de água,
E se afogam num lago que transborda mágoa,
Numa enchente de fome que só tem destroços.

Sem nação, sem aurora, sem a luz da esperança,
Os retirantes do sertão andam entre tocos
Dando passadas confusas, sem ter destino,
Parecendo uma grande procissão de loucos.
Sobre este quadro de pavor, vê-se um país,
Massacrando a pobreza que chora infeliz,
E oferta a imensa riqueza, pra bem poucos.

                                                              Gilmar Leite

terça-feira, 5 de agosto de 2014





01 Ano no Bessa
05/08/2014


Hoje está fazendo 01 ano que estou morando no Bessa (João Pessoa, PB). Mas precisamente, num ninho que é meu. kkkk. Está sendo uma experiência maravilhosa; pois é um lugar, que para mim, tem-se mostrado tranquilo. De um lado (500 metros) tem a mata atlântica, com toda a sua exuberância. Do outro lado (mais ou 500 metros), tem o mar, repleto de beleza, movimento, encanto e mistério. Ainda não explorei a mata atlântica. Mas o mar, vez enquanto, caminho na beira do mar junto com as maria-farinhas, olhando as flores, fazendo mergulhos, nadando um pouco e olhando os atletas  kitesurf, os surfistas, fazendo manobras radicais. Nesse movimento, despertou a sensibilidade para eu escrever um galope na beira do mar.

                              Na Beira do Mar

Dei beijos na brisa do mar cristalino
Toquei no profundo das águas latentes
Senti as sereias com cantos dolentes
Perdidas nas ondas, chorando o destino.
Vi o brilho fulgente do meigo menino
Catando conchinhas num doce buscar
As ondas surgiam num lindo bailar
Deixando as espumas nas alvas areias
Banhando de branco fidalgas sereias
Dançando e cantando na beira do mar.

Na beira do mar vi ostrinhas pequenas
Sutis borboletas com asas de sedas
Beijar o veludo das ondas mais quedas
Trocando caricias nas águas serenas.
O mar demonstrava mil cores amenas
Pintando o horizonte com tons de encantar
O nauta veloz, como um deus do lugar, 
Saltava no barco, partia ligeiro,
Sentado no banco do velho veleiro
Olhava os amores na beira do mar.

Crustáceos pequenos saltavam felizes
Em bandos brincavam na beira da praia
Espumas bordadas da cor de cambraia
Mostravam do mar belíssimos matizes
As ondas surgiam em leves deslizes
Tocando nos corpos num doce beijar
Pequenas gaivotas no céu a voar
Num lindo balé enfeitavam o espaço
Pintando de branco, fazendo seu traço,
Deixando mais plácida a beira do mar.

                                           Gilmar Leite