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segunda-feira, 13 de julho de 2015

Hildeberto Barbosa - Poeta, Escritor e Professor da UFPB



LETRA LÚDICA
Hildeberto Barbosa Filho
 
 
Jorge de Lima e Gilmar Leite

Jorge é alagoano, de União dos Palmares. Estou me referindo a Jorge de Lima. Gilmar é pernambucano, de São José do Egito. Estou me referindo a Gilmar Leite. Jorge certamente não conheceu Gilmar. Gilmar provavelmente conhece Jorge. Jorge já se foi, levado pelas garras afiadas e impiedosas da Indesejada das Gentes, Megera Ancestral, Onça Caetana, seja lá que nome possamos lhe dar. Gilmar está vivo, vivíssimo, e como todo ser que preza a vida nem tão cedo pretende duelar com a Dama da Foice, na hora e vez a que ninguém escapa.
De tempo e geografia diferentes, o fato é que Jorge e Gilmar são poetas, e como poetas, nutridos pela filigrana melódica da emoção e do pensamento poéticos, assim como pela força alada das palavras, de que cuidam com os utensílios peculiares às suas respectivas dicções. Sobretudo quando tais dicções modulam o galope aceso do lirismo telúrico ou sentimental.
Dois sonetos podem uni-los, apesar das específicas coreografias vocabulares, das intensidades rítmicas e dos desenhos sinuosos que subscrevem ideias e imagens no quadrilátero de cada verso. Afinal, qualquer poema ecoa outro, e a voz expressiva de um poeta não subsiste sem o diálogo secreto com outras vozes do presente e do passado. É o caso de dizer: se Jorge é Jorge, e lembra Camões que lembra Petrarca; Gilmar, em sendo Gilmar, lembra Jorge, e dessas lembranças tecidas, como se fora um toldo feito de luz, de sândalo, de miragens e de algarismos intangíveis, é que se faz o tecido inconsútil da poesia.
Em cada um dos sonetos, cada um dos poetas fala do poeta. Jorge, logo no segundo quarteto, de seu soneto modelar, afirma que “No meio de desertos habitados/só eles” – claro, os poetas – “é que entendem o sigilo/dos que no mundo vivem sem asilo/parecendo com eles renegados”. Gilmar, por sua vez, também no segundo quarteto de seu soneto modelar, diz que o poeta “É um ser construído do sensível,/Pra mostrar os sentidos com encanto,/E fazer, através do desencanto,/O possível surgir do impossível”.
Para além da forma fixa selecionada, da métrica rigorosa dos decassílabos e da temática de vetor metalinguístico, aproxima os poetas o jogo ostensivo dos conceitos dialéticos e os apelos internos dos antagonismos lexicais, cadenciando a festa ideativa do intelecto e da sensibilidade. Os últimos tercetos de cada poema enfatizam a lógica desta gramática lírica.
Canta Jorge de Lima, pluralizando o sujeito: “São eles os que gritam quando tudo cala,/são os que vibram de si estranhos coros/para a fala de Deus que é sua fala”. Singularizando o sujeito, reverbera, a seu turno Gilmar Leite: “Ele enxerga a aurora no crepúsculo,/Vê o grande oculto no minúsculo,/E a voz dos que vivem esquecidos”.
Jorge e Gilmar, Gilmar e Jorge. Que belo encontro na paisagem da poesia; na magia desse lance de dados que jamais abolirá o acaso...

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Foto de Gilmar Leite


                 Quando Canto

Quando canto germina a linda flor
No jardim encantado do meu peito;
Cada lírio de acordes eu enfeito
A canção do meu sonho cantador.

É cantando que perfumo o amor
E pras dores, o canto encontra um jeito,
Meu cantar faz o verso ser aceito,
E por isso, meu canto é afagador.

Eu cantando me sinto uma criança
Cada tom tem o quadro da esperança
Numa escala de paz e liberdade.

E por isso eu estou sempre cantando,
Com os sons do amor vou enfeitando,
Um rosário no peito da amizade.

                                       Gilmar Leite