

--------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------
DOIS SERTÕES
---------------------
---------------------
O Sertão é cruel e violento,
Mas também, é profundamente humano,
Quando seco, é macabro e desumano,
Quando verde, produz contentamento.
Tem miséria e também tem alimento,
Paradoxo de risos e de prantos;
Desencanta e demonstra mil encantos,
Revelando cenários de dois mundos
Um lugar de mistérios bem profundos,
Cada qual envolvido nos seus mantos.
Quando seco, os troncos contorcidos,
Das juremas com galhos ressecados,
Se parecem com corpos condenados
De famintos soltando mil gemidos.
Secos ramos são braços estendidos,
De fantasmas pedindo um alimento;
Num deserto de fome e de tormento,
Assustando quem passa no recinto,
Onde a vida é um fel feito absinto,
Amargando num triste sofrimento.
Se chover, tudo muda, velozmente:
Os fantasmas das árvores peladas
Vestem roupas de cores variadas,
Acabando o macabro ambiente.
O campônio vai pra roça contente,
Carregando no peito a esperança;
A mulher toma conta da criança
Tocaiando as panelas no fogão,
Na certeza de ter milho e feijão
Pra acabar sua fome, com bonança.
O deserto que, antes existia,
Com espinhos e serpes venenosas,
Dá lugar a paisagens primorosas,
Parecendo uma outra moradia.
Na campina aparece a sinfonia,
Duma orquestra de pássaros cantantes;
Borboletas, em ritmos dançantes,
Num balé, fazem mil vôos delicados;
Os sutis colibris, bem refinados,
Beijam flores, iguais a dois amantes.
Na vazante que estava ressecada,
A lagoa transborda na enchente;
Um tetéu solta seu canto contente
Num cantar que anima a passarada.
Sobre a terra que estava calcinada
Surge um córrego, puro e cristalino,
Dando beijo num grão bem pequenino,
Para em breve virar uma planta em flor,
Colorida e exalando um doce olor
Através de um perfume tão divino.
Sobre os galhos frondosos da aroeira,
Que na seca a visita era o sol quente
Quando chove, recebe alegremente,
Cada espécie de ave trepadeira.
Um tenor sabiá de voz brejeira
Solta um canto, coberto de esperança,
O qual mostra uma era de bonança
Diferente da época passada,
Quando quase morreu a passarada
Nos espinhos da vil desesperança.
O esquálido rio que estava morto
Ressuscita seu leito quando chove
O campônio no peito se comove
Que desperta a alma num conforto.
Fica olhando às águas, absorto,
Contemplando a mudança da paisagem
Onde antes só tinha a seca imagem
Vê o rio caudaloso com primores
Desenhando na tela mil fulgores
Onde o verde demonstra a mensagem.
O complexo sertão mostra dois mundos
Os quais são totalmente diferentes,
Com imagens e vidas oponentes
De heróis, que também são moribundos.
Os seus vales são ricos e fecundos;
Basta à chuva cair freqüentemente,
Que do chão brotará uma semente
Demonstrando um sinal de esperança,
Igualmente o sorriso da criança
Que verdeja o sertão que há na gente.