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domingo, 24 de maio de 2009

RIO PAJEÚ
Poema Épico

Grande rio de mágico mistério,
Correnteza imortal da inspiração,
O reinado sublime do Sertão,
Onde o canto é levado muito a sério.
Cada verso demonstra nobre império
Onde o vate governa soberano;
Expressando o cantar parnasiano
Numa enchente de verve cristalina,
Que em cascatas vem da mente divina
Para encher de ternura o peito humano.

És nascente do audaz Rogaciano
Defensor voraz dos trabalhadores;
Teu jardim resplandece lindas flores
Que “Cancão’’ plantou com amor arcano.
Foi Marinho o primeiro mestre ufano
Que subiu o estandarte da poesia.
Job Patriota lirismo em fantasia,
Lourival trocadilho inusitado,
Grandes mentes dum sol iluminado
Onde a verve com brilhos extasia.

És vertente que tem filosofia
Através do erudito Bio Crisanto,
Um filósofo que ao invés do pranto
Derramava correntes de alegria.
Quem passava na humilde moradia
Via o exemplo fiel da evolução,
Dum filósofo sem locomoção
Dando passos com sábios pensamentos,
Expressando sublimes sentimentos
Sobre as trilhas dum puro coração.

Nascedouro imortal da criação
És a fonte dos grandes repentistas,
Cachoeira dos “três irmãos Batistas”,
Valdir Teles veloz como um tufão,
Zezé Lulu cantou todo o Sertão,
Zé Catôta na glosa é imensurável,
Ismael repentista admirável,
E João Campos corrente cristalina,
O fulgor de Antônio de Catarina,
O “baú” de um Dedé inesgotável.

Pajeú, teu poema é memorável!
Mestre Aleixo revela com carinho,
Nos mostrando com luz o teu caminho
Num saber de grandeza inexorável.
A família Rabelo inquestionável
É um marco do reino encantado;
O saber desse povo coroado
Tem no trono o valor da poesia,
Declamada e escrita com magia
Construindo com versos teu legado.

Cada vate é um rei admirado,
Que governa através do coração,
Castigando seu povo de emoção
Com o beijo do verso ritmado.
Amorim, um poeta inveterado;
Adalberto, pureza imaginável;
Edinaldo que mostra o admirável;
Lulu Neto e Vinicius Gregório,
Com Arlindo e um “Rocha” tão notório,
São enchentes do verso inesgotável.

São os “Passos”, a fonte interminável,
Numa Grécia coberta de lirismo,
Onde brota o fulgor do romantismo,
De maneira sublime, inigualável.
Quem caminha no teu solo infindável
Sente as flores da mente que extasia;
Duma terra com sendas de poesia
Onde o povo navega o coração,
Na corrente imortal da inspiração
Encantando o viver com fantasia.

Cada córrego brota a melodia
Através do “Caboclo Sonhador”;
Um menino tropeiro cantador
Que nos dedos tem veio de harmonia.
O Zé Dantas compôs com maestria,
Matricó faz canções usando o pinho,
Nas barrancas a neta de Marinho
Faz um canto com toda devoção,
Numa enchente de linda entonação
Com beleza, doçuras e carinho.

Por imenso que seja o pergaminho
Pra falar dos ilustres moradores,
São centenas de músicos e escritores
Dando brilho ao poder do remoinho.
Cada enchente de verso abriu caminho
Para nova e brilhante geração;
São valores de grande criação
Com fulgor, sentimento e beleza,
Aumentando com luz a correnteza
No profundo lençol da inspiração.

Cada artista através da perfeição
Pinta quadros com mágico pincel,
Demonstrando de forma bem fiel
As imagens que vêm do coração.
Os seus traços têm cores do Sertão
Que o poeta “Filó” em versos pinta,
Desenhando de forma bem distinta
A paisagem encantada da poesia,
Num painel de beleza e fantasia
Ilustrado por uma oculta tinta.

A grandeza jamais será extinta
Na planície fiel da inspiração,
Porque existe um perene coração
Escorrendo uma verve que não finta.
Quem bebê-lo é difícil que não sinta
O sabor delicado dos sentidos,
Onde a fonte cristal dos tempos idos
Continua jorrando o sentimento,
Recebendo o parnaso “Nascimento”
Através dos sonetos construídos.

Teu jardim tem canteiros coloridos
Onde as flores liberam sua essência,
Perfumando com lírica fluência
Os recantos sublimes dos sentidos.
Colibris multicores destemidos
Bebem o néctar límpido das flores
Dando vôos delicados nos verdores;
E as sutis e pequenas borboletas
Num balé demonstram mil piruetas
Enfeitando o painel dos esplendores.

Quando a tarde desmaia, os temores
Tomam conta do homem sertanejo
E o mistério da noite dá seu beijo
Sobre a face temível dos pavores;
Uma rã solta seus gritos de dores,
Enlaçada por rápida serpente;
Outros bichos despertam do latente
Pra saírem na negra escuridão,
Na rotina infalível do Sertão,
Assombrando o viver de muita gente.

Quando chega a época da enchente
Os meninos derrotam seus auspícios;
Sem temerem profundos precipícios,
Dão mergulhos vencendo a corrente.
A jurema com espinho contundente
É levada num grande arrastão;
Velhos troncos tirados do seu chão,
São caronas pra toda meninada,
Parecendo uma rápida jangada
Entre as águas fluídas do grotão.

Tuas águas banharam Lampião,
Cangaceiro de força destemida,
Que passou quase toda a sua vida
Enfrentando os soldados da nação.
Para muitos foi líder do Sertão,
Que assombrou fazendeiros poderosos;
Enfrentou secas, tempos invernosos,
Desbravou mil caatingas com coragem;
Nas ribeiras dormiu fez a passagem
Comandando seus cabras corajosos.

É nos tempos de invernos caudalosos
Que o teu veio aumenta ferozmente,
Numa fúria veloz onde a corrente
Tem a força dos tigres poderosos.
Os remansos com giros revoltosos
Movimentam as águas vermelhadas,
As lagoas são todas inundadas
Pelas fortes vazantes das ribeiras,
Renascendo pequenas corredeiras
Das planícies que foram alagadas.

Quando seco, visões mal assombradas
Formam cenas tristonhas de pavor;
O sofrer do Sertão sente o fervor
Numa dor de tristezas desoladas.
As carcaças das vacas ressecadas
Pelo sol escaldante do verão;
São fantasmas de grande assombração
No painel desolado dos tormentos,
Retratando milhões de sofrimentos
Num semblante de trágica feição.

No passado viveu grande nação
Habitada por tribos de guerreiros,
Que cruzavam com passos bem maneiros
Todo o vale, ribeira e o grotão.
Foram bravos de puro coração
Como prova de um reino encantado;
Qualquer vate que esteja inspirado
Bota flores de versos em tuas sendas
Enfeitando de cantos belas lendas
Da nação do guerreiro delicado.

O presente conquista teu passado
O futuro tem flores de esperança;
Até mesmo da mente da criança
Surge o pólen dum verso improvisado.
Sobre a margem o vaqueiro encourado
Solta a voz qual poetas soberanos;
Lindos pássaros com cantos arcanos
Improvisam nos velhos arvoredos;
Nos casebres das margens, mil segredos
São histórias de menestréis ufanos.

És passagem dos nômades ciganos,
Retirantes das secas infernais,
Que procuram lugares invernais
Pra salvar o seu povo de mil danos.
Foste palco de embates desumanos
Na tragédia selvagem do passado;
Sobre “Pedra Bonita*” está marcado
Cada traço de sangue do inocente,
Que, iludido, morreu sonhando crente
Nas promessas dum “Reino Encantado”.

Pajeú, quando vejo teu reinado
Expressar menestréis encantadores,
São as pétalas fúlgidas das flores
No jardim do lirismo improvisado.
Cada artista desvenda o ocultado
Através do poder da intuição;
Tens nas veias sublime criação,
Na grandeza dos nossos monumentos,
Onde os versos escorrem sentimentos
Duma fonte chamada coração.

E por mais que eu procure inspiração,
Que desenhe teus quadros de beleza,
Fica um córrego minha correnteza,
Comparada com tua imensidão.
Não consigo falar com precisão
Pra mostrar o teu reino encantado,
Já estou com meu peito esgotado,
Minha mente perdeu a consciência,
Chamo um vate que tenha competência
Pra acabar meu poema inacabado.

* O Massacre de Pedra Bonita
A Tragédia da Pedra Bonita, ocorreu num lugar localizado na Serra Formosa, no município de São José do Belmonte, Sertão do Pajeú Pernambuco. Um grupo de fanáticos sebastianistas, liderado por João Antônio dos Santos, fundou uma espécie de reino, com leis e costumes próprios e diferentes dos do resto do país. Seu líder era chamado de rei e usava até coroa feita de cipó. Nas suas pregações ele dizia que o rei Dom Sebastião lhe havia aparecido e lhe mostrara um tesouro escondido; e que o rei estaria prestes a retornar e iria transformar todos os seus seguidores em pessoas ricas, jovens, bonitas e saudáveis. O grande número de pessoas pouco esclarecidas que seguiu os fanáticos de Pedra Bonita preocupou o governo, os fazendeiros e a Igreja Católica. Foi enviado o padre Francisco José Correia de Albuquerque para tentar fazer as pessoas voltarem ao seu lugar. O padre conseguiu convencer João Antônio a parar com a pregação, mas este deixou em seu lugar o cunhado João Ferreira, que se tornou o mais fanático e cruel rei da Pedra Bonita. Ele pregava que Dom Sebastião só voltaria se a Pedra Bonita fosse banhada com sangue de pessoas e animais, comandando um grande massacre de pessoas inocentes em maio de 1838. Entre os dias 14 e 18 morreram 87 pessoas. No dia 18 de maio o arraial da Pedra Bonita foi destruído pelas forças comandadas pelo major Manoel Pereira da Silva.

3 comentários:

  1. Poeta, diante da grandeza expositória das belezas do Sertão do Pajeú,qualquer comentário pode se perder na imensidão de tal poema!
    Vejo-o como um hino entoado pela percepção de uma grande alma sertaneja...Visões maravilhosas do povo e do seu lugar...Belíssimo!
    Beijos poéticos.

    ps.: E se acha inacabado, difícil será para quem fizer algo depois de tamanha grandeza!

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  2. Poeta Gilmar, o blog está muito bom: em forma e conteúdo. São belíssimos poemas e interessantes informações sobre a cultura de uma região (Pajeú)encantadora, pelas suas peculiaridades sócioculturais.Parabéns pelo lindo poema "Rio Pajeú"(grande: em extensão - 22 décimas, com deixa - e em profundidade)! Vale a pena visitar o seu blog. Um abraço. Zé Rego.

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  3. O seu blog tá uma beleza! Agora sou seu seguidor. Aproveite e veja o meu: www.oteoremadafeira.blogspot.com
    Abraços!

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Obrigado pelo comentário