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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

RIO PAJEÚ



CONTEMPLANDO O PAJEÚ

Sobre a margem contemplo extasiado
Estender o seu leito, qual um lençol,
Recebendo os cristais beijos do sol
O sutil Pajeú, todo rendado.
O seu corpo ora reto, ora curvado,
Entre as rochas, descendo em corredeiras,
Vai beijando alguns troncos, ribanceiras,
Como alguém que sofrendo está partindo,
Suas águas são lágrimas sentindo
A saudade vertendo em cachoeiras.

Sobre a rocha a pequena “lavadeira”,
Lava as roupas do Deus onipresente;
Diz a crença que o pássaro inocente
Já nasceu pra essa tarefa altaneira.
A branquíssima garça pantaneira
Com encantos demonstra exuberância,
Dando passos com lírica elegância.
E nos cantos que ficam alagados
Os pequenos jasmins bem perfumados,
Soltam das flores, dúlcida fragrância.

Eu me lembro do meu tempo de infância
Desvendando do rio os seus segredos,
Enfrentado os remansos sem ter medos
Escutando um concriz em ressonância.
Só sentia no peito uma ganância
De buscar terra num lugar mais fundo;
Mergulhando sem medo do profundo,
Praticando as mais loucas fantasias,
Dando saltos, fazendo estripulias,
Demonstrando um menino vagabundo.

No seu solo que sempre foi fecundo
Vejo as flores de espécies delicadas,
Exalando as essências perfumadas
Atraindo os colibris num segundo.
As abelhas surgidas de outro mundo,
Com leveza buscam as belas rosas
Pra tirarem de formas carinhosas,
Todo o néctar que existe no vergel,
Pra fazer com perícia o doce mel
Escolhido das flores mais cheirosas.

Olho as águas nas tardes invernosas
Estrondando entre as rochas perfurantes,
Dando curvas com espumas flutuantes
Igualmente as serpentes venenosas.
Elas dão impressão que estão raivosas
Através do barulho da corrente,
Onde penso que cada rocha sente
A partida veloz das fortes águas;
Inundando com lágrimas as mágoas
Recebidas na fúria da enchente.

Um sutil beija-flor voa contente
Entre os galhos dum velho umbuzeiro,
O seu vôo encantado e bem maneiro
Deixa a força da gravidade ausente.
A grandeza da vida na semente
É mostrada através da flor oculta.
Quando a planta nasce, dela resulta,
Um perfume de essência delicada,
Encantando minha alma extasiada
Onde a sabedoria fica inculta.

Um veloz sabiá sem medo insulta
Um cruel carcará sanguinolento,
Sobre a margem usando o passo lento
Surge um cágado com a face estulta;
O fura-barreira de forma culta
Nas barreiras constrói a residência,
Através do local faz reverência
Aos poderes da santa natureza,
Onde a casa respeita a correnteza
Dum inverno que mostra inclemência.

Vejo as águas passarem em turbulência
Arrastando alguns galhos volumosos;
Só ficando umbuzeiros poderosos,
Pois seus troncos têm grande resistência.
Quando passa a enxurrada com fluência,
Fica o rio bem mais calmo e sonolento;
Velhas árvores servem de aposento
Para as aves fazerem lindos ninhos;
O vaqueiro nas margens faz caminhos
Conduzindo a boiada em passo lento.

Quando a tarde desmaia um sentimento
Deixa a face do rio em nostalgia,
Com saudades da luz que tem o dia
Onde a vida possui contentamento.
O crepúsculo num vermelho cinzento,
Faz mudar os fulgores da paisagem,
Dando pouca clareza para a imagem,
Com as pálidas lâmpadas do sol,
Desenhando na tela um arrebol,
Onde as nuvens são monstros da miragem.

Vejo as aves que buscam na ramagem
Um refúgio temendo os predadores,
Que são bichos ferozes caçadores
Procurando animais que tem plumagem.
Um téu-téu dá um grito sobre a margem
Percebendo a presença da serpente;
Nesse instante despertam do latente
Animais que têm hábito soturno,
Entre as folhas caminham no noturno
Procurando algum pássaro inocente.

Um sutil vaga-lume aurifulgente
Aparece de lâmpada na mão,
Clareando a sombria escuridão
Através dum fulgor sempre luzente.
Vejo a lua surgindo do nascente
Com seus raios pintando de dourado,
Desenhando um painel amarelado,
Espargindo um fulgor na correnteza,
Despertando da calma natureza
Algum bicho que vive ocultado.

Meu semblante não dorme extasiado
Contemplando as belezas do sertão;
Através dum rio que tem coração
E por isso me deixa apaixonado.
Só falei do seu córrego invernado
Não citei as correntes de seus versos,
Onde as águas fluem cantos imersos
Na enchente sutil dos sentimentos,
Transbordando de belos pensamentos
A lagoa dos meus sonhos diversos.

3 comentários:

  1. Flutuei por suas palavras vislumbrando momentos maravilhosos...Mergulhei em profundas imagens que transportaram saudosos reflexos...E, só posso deixar, aqui, minha admiração extasiada pela beleza inenarrável desse poema!
    Beijos Poéticos.
    Rachel Rabelo.

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  2. Eu que sempre cantei meu Rio, meu sertão,minha realidade sertaneja, estou maravilhada com tudo que li no seu blog.
    Parabéns!!!! Parabéns meeeesmo!!! você fala com inspiração e com um profundo conhecimento.
    Dalinha Catunda

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  3. Lindo poema! Que delícia o teu blog, amigo. Que maravilha o teu talento, entusiasmo e amor pela poesia! Sou sua mais nova "seguidora"! Beijos,
    Cláudia.

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Obrigado pelo comentário