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sábado, 7 de novembro de 2009



SER TÃO SERTÃO

No meu peito, palpita um ser sertão,
De invernadas ou secas causticantes,
Mostra os campos sutis e fulgurantes
E desertos que causam assombração.
Nele pulsa o crepúsculo dum verão,
Ou os fulgores das horas matinais;
Mostra os vales nos tempos invernais,
E revela os cenários de dois mundos,
Onde vivem os dois seres profundos,
Que têm secas ou grandes temporais.

No meu ser, o sertão vive presente,
Através dos costumes do seu povo,
Que resiste ao banal chamado novo
Parecendo um umbuzeiro imponente.
Nele pulsa as violas do repente
Através do improviso num arpejo;
Igualmente um relâmpago em lampejo
Numa chuva de versos que me acalma,
No profundo oculto da minha alma
Onde vive um campônio sertanejo.

No sertão da minha alma resplandece
A florada de um pé de umbuzeiro;
As sementes sutis do marmeleiro
Que a rolinha se alimenta como prece.
O meu ser tão sertão nunca fenece
Os jardins encantados da esperança;
Nele existe a certeza da bonança
Dum roçado com verdes pés de milho,
Onde o pai tem certeza que seu filho
Não irá mais sofrer desesperança.

Quem caminha na trilha do meu ser
Nela encontra o xaxado e o baião,
Na sanfona e na voz de Gonzagão
Onde o canto é a forma de viver.
Um vaqueiro abóia com prazer
No oculto curral da existência,
De um ser sertanejo por essência
Que carrega no peito a sua terra
Desde o vale, a caatinga e a serra,
Dando passos fieis da consciência.

No meu peito se encontra a ladainha
Das beatas rezando em procissão;
Mostra a fé do campônio do sertão
Enfrentando um viver que lhe espinha.
Canta dentro de mim uma rolinha
Num crepúsculo da tarde sertaneja;
Tem o som do caboclo na peleja
Conduzindo a boiada em passo lento,
Aboiando do peito um sentimento
Sob o sol causticante que dardeja.

Dentro de mim ecoa um dialeto
De palavras do homem camponês,
Que não fala o urbano português;
O dizer e entender pra ele é correto.
Na minh’alma carrego humilde teto
Das casinhas de taipa do sertão,
Que só tem na parede a devoção
Sobre a forma singela dum retrato,
De Jesus padecendo no maltrato
Como a forma cristã da redenção.

O meu sangue possui o puro cheiro
Das essências da flor duma jurema
O cantar da afinada seriema
Sob a sombra dum verde juazeiro.
Eu carrego na minha’alma um vaqueiro
Nas juremas fazendo vaquejadas,
Argolinhas, São João e cavalhadas,
Cantorias, folguedo, apartação,
A novena, promessa e procissão,
Tradições, que estão enraizadas.

O sertão não é só parte da terra
Ele está no profundo do meu ser
Pra senti-lo é preciso compreender
Desde o vale, a caatinga e a serra.
A grandeza de sê-lo nunca encerra;
Eu carrego com risos ou com prantos,
Através dos poemas ou dos cantos
Como símbolo da minha identidade,
Onde a flor da cultura é a verdade
Exalando os costumes com encantos.

5 comentários:

  1. Grandioso...Belíssimo...Rico em imagens maravilhosas de um Sertão cheio de belezas, singelezas, hulmidade e identidade!
    Fiquei e estou maravilhada com seu SER TÃO SERTÃO!
    Beijos poéticos.

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  2. Gilmar, seu convite é um ordem,
    Você convida porque sabe que tem o que oferecer.
    Chegar aqui, dar de cara com este autêntico sertão de imagens e palavras que traduzem uma fidelidade sem igual é simplesmente, como diz nosso povo: FORMIDÁVEL.
    Amei passar por aqui, confesso que senti o sol tremer e o cheiro do meu sertão.
    Carinhosamente,
    Dalinha

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  3. Oi querido Gilmar... É esplêndido o orgulho que traz da sua "terra mãe". Creio que toda beleza de imagens e paisagens que "aquecem" até a alma da gente, riqueza poética do nosso imenso país ficou por aí... pois por aqui é como encontrar "agulha no palheiro"...Não falo apenas das imagens, mas do berço poético mesmo... onde as crianças crescem ouvindo e vivendo poesia... Parabéns pelo blog!!!... é uma "mansão" com móveis de fino trato... Um grande beijo de admiração e carinho...
    Giovana

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  4. Poeta, é muito bom ver sua poesia correndo mundo...Sua palavra tocando as almas de forma acalentadora...Ver o sentir das pessoas através dos seus escritos...Da admiração do seu ser como grande homem/poeta que é...E, que aos poucos, estas pessoas, estão enfeitando mais ainda seu espaço sertanejamente identificado, através de ricos comentários!
    O gratificante é saber que não há distância para a arte!
    E a recordação primeira que me vem é: tudo entre nós começou assim...Através da sua poesia...Do envio das suas doces palavras...Dos seus ternos elogios a minhas singelas palavras...De uma troca enérgica de palavras sutis, amigáveis e carinhosas...Não cabe a todos essa sensibilidade de conquista!
    A cada novo passeio em seu espaço, mais o parabenizo, pelo crescer destas obras magníficas e cheias de imagens que até os que possuam olhos vendados podem vislumbrar e os insensíveis podem sentir.
    Com carinho, respeito, admiração e sentimentos de felicidade pelo crescer do seu trabalho...Beijo poeticamente iluminado.
    Rachel Rabelo.

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  5. Um obrigado do tamanho do corações de vocês que deixaram registrado no meu espaço de sensibilidade lindas palavras de carinho e de força para que eu continue na estrada da poesia.
    Beijos

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Obrigado pelo comentário