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quinta-feira, 10 de novembro de 2011


Depois de ter feito uma viagem a Canudos para entender melhor a geografia da guerra, e de me encantar cada vez mais pela história de Canudos e da carnificna do exército brasileiro, ao dizimar milhares de vidas de pessoas humildes do sertão, aproveito esse espaço para mostrar a foto dos poucos sobreviventes de Canudos e o poema clássico de Ivanildo Vilanova.



A história fará sua homenagem
A figura de Antônia Conselheiro
                          I
Num profundo deserto sem ter fonte
Já surgiu um regime igualitário
Onde um justo já sexagenário
Fez erguer-se a cidade Belo Monte
Para então deslumbrar o horizonte
Sem maldade, sem crime e sem dinheiro
Sem bordel, sem fiscal, sem carcereiro
Mas foi morto e tomado por selvagem
A figura fará sua homenagem
À figura de Antônio Conselheiro

Quem viveu ao seu lado sempre quis
Ter real o que era fantasia
O reinado no céu não prometia
Sim um reino na terra mais feliz
Afinal só o povo do país
Pode dar o retrato verdadeiro
Deste líder autêntico e mensageiro
Que alguém deformou sua imagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antônio Conselheiro

Masseté, Uauá, Paraguassú
Caatinga, Facheiro, Mororó
Cambaio, Caipan, Cocorobó
Monte Santo, Favela e Trabubu
Beatinho, Abade e Pajeú
Vilanova, Brandão e Fogueteiro
Macambira, Lalau e o sineiro
Timóteo, lendário personagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antônio Conselheiro

Oh! Canudos país da promissão
Foi injusta e cruel a tua guerra
Tu que eras abrigo dos sem terra
Sem direito, justiça, paz e pão
O jagunço era apenas o irmão
O fanático somente o companheiro
Junto ao mestre encontrado o paradeiro
Confiança, família e hospedagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antônio Conselheiro

Só o Vaza Barris tão solitário
Vive lá como símbolo e uma prova
De Canudos igreja velha e nova
Linha negra, trincheira e santuário
Malassombro de latifundiário
Coronel, poderoso e fazendeiro
Houve mesmo esse reino alvissareiro
Ao qual muitos tomaram por miragem
A história fará sua homenagem
À figura de Antônio Conselheiro

Sertanejos morrendo de magote
A bandeira rasgada era um molambo
O quartel sem guarita era um mocambo
A trincheira era a grimpa de um serrote
A metralha um feioso clavinote
Baioneta era a lança do carreiro
A corneta o búzio do vaqueiro
Parapeito e gibão sua roupagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antônio Conselheiro

Quase dez mil soldados de elite
Quatro bons generais lhes dando apoio
Bivarque, arsenal, bóia e comboio
Com dezoito canhões e dinamite
Numa guerra civil sem ter limite
Não um simples conflito passageiro
Brasileiro matando brasileiro
Os vencidos mostrando mais linhagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antônio Conselheiro

Foi a luta da foice e do fuzil
O facão enfrentando a artilharia
Uma nódoa na honra da Bahia
Uma mancha no nome do Brasil
Mas talvez que no ano de 2000
Esse nosso Nordeste brasileiro
Seja outra Canudos por inteiro
Com mais gente, mais arma e mais coragem
A história fará sua homenagem
À figura de Antônio Conselheiro.
                              Ivanildo Vilanova

Um comentário:

  1. Não desmerecendo os demais poetas (jamais) que escreveram, poeticamente, a respeito de Canudos; mas, o mestre Ivanildo VilaNova narrou com grandeza e inigualável beleza a história desse povo. Imortalizando a história, e deixando-nos, receosos de tentar dizer algo mais.
    Parabéns pela postangem....Saudações Conselhistas.
    Rachel Rabelo

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